Ruptura do tendão de Aquiles

Os tendões são cordões de tecido fibroso que formam fortes ligações entre músculos e ossos. O tendão de Aquiles (tendão calcaneano) trabalha com os músculos da panturrilha para ajudar a fornecer força durante a caminhada, corrida e outras atividades. Ajuda a empurrar o pé e o tornozelo para baixo (ação conhecida como “flexão plantar”), permitindo levantar o calcanhar do chão e ficar na ponta dos pés.

Anatomia

O tendão de Aquiles é o maior tendão do corpo. Ele é uma continuação dos músculos da panturrilha e se fixa na parte de trás do calcâneo (osso do calcanhar).

O tendão de Aquiles e sua inserção no calcâneo (osso do calcanhar).

O tendão de Aquiles e sua inserção no calcâneo (osso do calcanhar).

A parte central (média) do tendão de Aquiles tenha um suprimento sanguíneo deficiente em comparação com as outras partes do tendão. Esta parte do tendão é encontrada a cerca de 5 a 7cm de onde o tendão se liga ao osso do calcanhar.

Descrição

As rupturas do tendão de Aquiles podem ser parciais ou completas.

  • Rupturas parciais: se uma ruptura não romper completamente o tendão, ela é chamada de “ruptura parcial”. Estas são raras em comparação com rupturas completas.
  • Rupturas completas: o tendão de Aquiles pode ser completamente rompido quando exposto a um alto estresse. A lesão pode ocorrer na sua inserção (local de fixação) no osso do calcanhar ou em algum ponto ao longo do tendão. Sem esse tendão inteiro, o paciente não consegue levantar o corpo na ponta dos pés da perna lesionada.
    Com uma ruptura completa do tendão de Aquiles, o tendão se romperá de sua inserção (local de fixação) no osso do calcanhar (figura da esquerda) ou se romperá em algum ponto no meio do tendão (figura da direita).

    Com uma ruptura completa do tendão de Aquiles, o tendão se romperá de sua inserção (local de fixação) no osso do calcanhar (figura da esquerda) ou se romperá em algum ponto no meio do tendão (figura da direita).

     

Causas

Uma força muito forte é necessária para romper o tendão de Aquiles. Normalmente, as rupturas do tendão de Aquiles ocorrem quando o músculo da panturrilha é esticado muito rapidamente (contração súbita).

  • Isso pode ocorrer ao pousar de um salto ou durante movimentos de corte em um esporte.
  • Em esportes como futebol, as rupturas do tendão de Aquiles também podem acontecer quando um atleta pisa no osso do calcanhar de outro atleta.

Fraqueza do tendão

Um tendão de Aquiles enfraquecido tem maior probabilidade de se romper. Vários fatores podem levar à fraqueza do tendão:

  1. As injeções de corticosteróides para tratar a tendinite do tendão de Aquiles têm sido associadas a um risco aumentado de ruptura do tendão. Por causa disso, deve-se evitar injeções no tendão de Aquiles ou ao redor dele.
  2. Doença crônica: muitas doenças podem interromper o suprimento de sangue e causar inflamação em todo o corpo. Entre as doenças podem enfraquecer os tendões, pode-se citar:
  • Doenças inflamatórias (Artrite Reumatóide, Lúpus Eritematoso Sistêmico);
  • Diabetes mellitus;
  • Infecção;
  • Obesidade;
  • Doença metabólica

3.Uso de medicamentos: o uso de certos antibióticos, como ciprofloxacina ou levofloxacina, tem sido associado ao enfraquecimento e risco de ruptura do tendão. Além disso, medicamentos       como corticosteróides e esteróides anabolizantes têm sido associados ao risco aumentado de degeneração tendínea.

Sintomas

  • Quando o tendão de Aquiles se rompe, pode se ouvir um estalo;
  • Muitas vezes o paciente relata a sensação de uma “pedrada na panturrilha” ou a impressão de ter tido sua perna chutada;
  • Dor intensa e inchaço perto do calcanhar podem seguir, associado a perda de força e incapacidade de andar com a perna machucada.

Histórico médico e exame físico

O médico perguntará sobre os sintomas ao redor do calcanhar, a saúde geral e histórico médico do paciente.

  • Alguma condição médica que possa colocá-lo em risco de lesão no tendão?
  • Você tem tendinite de Aquiles ou já teve dor anteriormente no tendão de Aquiles?
  • Você toma algum medicamento que possa aumentar o risco de lesão no tendão?
  • Você já fez uma cirurgia anterior neste pé, tornozelo ou tendão de Aquiles?

Depois de discutir sintomas e histórico médico, o médico realizará um exame completo do tendão de Aquiles:

  • Solicitar que tente ficar na ponta dos pés.
  • Solicitar que dobre o tornozelo ou empurre a mão do médico.
  • Realizar um teste em que se aperta a panturrilha e ver como o pé responde a esse aperto (chamado de teste de Thompson).

Partes deste exame podem causar dor, mas os testes são necessários para identificar corretamente uma ruptura.

Teste de ruptura do tendão de Aquiles. Este teste é chamado de teste de Thompson. O médico aperta a panturrilha e observa se o pé se move em resposta ao aperto.

Teste de ruptura do tendão de Aquiles. Este teste é chamado de teste de Thompson. O médico aperta a panturrilha e observa se o pé se move em resposta ao aperto.

Exames de imagem

Raios-X: se o tendão de Aquiles se romper em sua inserção (local de fixação) no osso do calcanhar, o médico poderá ver um fragmento de osso separado do osso do calcâneo.

Ultrassonografia: pode mostrar o tendão em tempo real e será capaz de determinar se há uma ruptura e, em caso afirmativo, como ele responde quando o tornozelo é movido. Isso pode ajudar o médico a entender a natureza e o tamanho da lesão.

Ressonância magnética (MRI): fornece uma imagem melhor dos tecidos moles, como os tendões. A ressonância magnética pode:

  • Mostrar a quantidade de tendão rompido e a localização da ruptura.
  • Ajudar a descartar uma lesão diferente que possa ter sintomas semelhantes.
  • Revelar se houve inflamação/degeneração no tendão antes da ruptura.
Essas imagens de ressonância magnética mostram uma ruptura do tendão de Aquiles na parte média do tendão. Este é o local mais comum de ruptura do tendão de Aquiles.

Essas imagens de ressonância magnética mostram uma ruptura do tendão de Aquiles na parte média do tendão. Este é o local mais comum de ruptura do tendão de Aquiles.

Tratamento

Este leva em conta diversos fatores, incluindo:

  • Se a lesão é parcial ou completa;
  • Nível de atividade do paciente;
  • Idade;
  • Ocupação.

Atualmente, há um debate entre os cirurgiões sobre se devem ou não tratar as rupturas do tendão de Aquiles com cirurgia.

  • Pequenas rupturas parciais respondem bem ao tratamento não cirúrgico.
  • As rupturas completas podem ser tratadas de forma não cirúrgica. No entanto, existem muitos fatores que podem influenciar um cirurgião a recomendar uma operação para reparar o tendão.

A decisão de realizar ou não uma cirurgia para uma ruptura do tendão de Aquiles é complexa e pessoal.

Tratamento não cirúrgico

Imobilização: uso de órtese (bota), tala ou gesso em uma posição em que os dedos dos pés estejam apontados para o chão. Isso manterá o tendão de Aquiles em uma posição estável para ajudá-lo a cicatrizar. É necessário o uso de muletas ou cadeira de rodas para se locomover. Diferentes médicos recomendarão diferentes quantidades de tempo para a cura. No entanto, o tempo de imobilização dura  pelo menos 6 semanas.

Fisioterapia: depois que o tendão de Aquiles começar a cicatrizar, a fisioterapia será iniciada. Os terapeutas são bem treinados para aumentar lentamente sua atividade e o movimento através do tornozelo para evitar lesões no tendão recém-cicatrizado.

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico das rupturas do tendão de Aquiles é o tema de muitas pesquisas em andamento. Um cirurgião pode recomendar o reparo cirúrgico do tendão se:

  • Você é um atleta competitivo;
  • Pular e empurrar com os dedos dos pés são essenciais para suas atividades (parte dessa força de empurrão pode afetar a corrida e o salto).

Alguns estudos mostraram melhora na força em pacientes que fazem tratamento cirúrgico para a ruptura do tendão de Aquiles. Outros estudos sugerem que os pacientes que fazem reparo cirúrgico têm menos probabilidade de romper novamente o tendão de Aquiles do que os pacientes que permitem que o tendão cicatrize sem cirurgia. Ainda há debate sobre essas descobertas e as pesquisas estão em andamento.

Os pacientes que optam pela cirurgia terão melhores resultados se o reparo for realizado logo após a lesão. Isso ocorre porque o tendão começará a encurtar e cicatrizar com o tempo, o que pode dificultar o procedimento.

Procedimento

A cirurgia pode ser realizada após anestesia regional (raquianestesia) ou anestesia geral.

  • Nos casos de ruptura do tendão de Aquiles na sua inserção (local de fixação) no calcanhar, os cirurgiões prenderão o tendão de volta ao calcanhar usando dispositivos de ancoragem, que são perfurados no osso do calcanhar.
  • As rupturas da parte média do tendão são reparadas com suturas para unir as bordas rasgadas. Existem várias técnicas que podem ser usadas para realizar esse reparo. Seu cirurgião pode discutir essas opções com você. As técnicas mais recentes envolvem incisões menores na pele, e são chamadas de “cirurgia minimamente invasiva (MIS)”.
A técnica mostrada aqui envolve suturas na parte superior e inferior do tendão, que é então amarrada no meio para unir as bordas do tendão rasgadas. Outras técnicas estão disponíveis e seu cirurgião pode discuti-las com você.

A técnica mostrada aqui envolve suturas na parte superior e inferior do tendão, que é então amarrada no meio para unir as bordas do tendão rasgadas. Outras técnicas estão disponíveis e seu cirurgião pode discuti-las com você.

Considerações

Os tendões podem encurtar e não cicatrizar caso muito tempo se passe desde a lesão (geralmente em lesões com mais de 6 semanas de evolução). Nesse caso, o cirurgião às vezes precisa adicionar tecido doado (enxerto) ao reparo para preencher a lacuna. Muitas vezes, isso pode ser previsto, e o cirurgião discutirá isso com o paciente antes da cirurgia.

Complicações

  • Como em qualquer cirurgia, podem ocorrer infecções, lesões nervosas, deiscência da ferida, complicações da anestesia e trombose;
  • A reruptura do tendão de Aquiles após o reparo também é possível;
  • Alguns pacientes podem se queixar de dor e fraqueza contínuas ao andar ou saltar.

Recuperação pós-operatória

  • medicamentos analgésicos após a cirurgia (controle da dor);
  • manter a perna lesionada elevada;
  • alta hospitalar em uso de gesso, tala ou órtese tipo robofoot para imobilizar o tendão de Aquiles lesionado;
  • duas semanas após a cirurgia, você retornará ao consultório do cirurgião para remover as suturas da pele;
  • A maioria dos cirurgiões colocará novamente um gesso, tala ou bota imobilizadora após a remoção das suturas;
  • Diferentes cirurgiões sugerirão diferentes quantidades de tempo gasto no gesso, tala ou bota, mas pode-se esperar cerca de 6 semanas de imobilização;
  • Após este período, gradualmente serão adicionados exercícios de fortalecimento ao seu plano de reabilitação;
  • A recuperação completa pode levar 12 meses ou mais.

Resultados

A maioria das pessoas pode esperar retornar à sua ocupação (trabalho) e atividades da vida diária após se recuperar de uma ruptura do tendão de Aquiles. Independentemente do tratamento, pode ocorrer algum grau de perda de força após uma ruptura do tendão de Aquiles; no entanto, com fortalecimento e terapia focados, a maioria dos pacientes consegue retornar ao seu nível anterior de atividade. Isso pode levar de 18 a 24 meses após a lesão.

O retorno ao esporte para os atletas pode envolver um conjunto complexo de testes para garantir que o atleta esteja pronto para participar da atividade completa.

 

Dr. Anderson Luiz de Oliveira
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Quadril (SBQ)
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE)
Membro da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE)

 

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